quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Música, maestro!



Não sou desses que gosta de comparar o anime clássico com o Crystal. Cada um foi produzido e exibido em contextos completamente diferente e ambos tem suas qualidades e seus defeitos. Mas tem uma coisa que, para mim e para muitos outros fãs, faz uma tremenda falta em Crystal: a identidade musical que o anime clássico possui. E é em homenagem a Takanori Arisawa, o homem por trás da inesquecível trilha sonora das cinco temporadas de Sailor Moon, que este texto foi escrito.

Pela dificuldade em encontrar fotos e informações sobre sua vida, podemos supor que era uma pessoa bem discreta. Nascido em 2 de abril de 1951, na cidade de Tóquio, Takanori Arisawa era praticamente uma criança autodidata, tendo na infância já desenvolvido seu interesse por música. Entretanto, foi só aos 20 anos que aprendeu a tocar piano, e aos 22 anos que ingressou em uma escola formal de música, a Senzoku Gakuen, na província de Kanagawa, onde se formou em composição e regência de orquestra, embora também tenha estudado jazz e pop. Ao longo de sua carreira, Arisawa compôs para diversos comerciais e novelas (e também para a versão japonesa de Vila Sésamo!) e gravou alguns CDs, mas a fama o alcançou com a criação de toda a trilha sonora de Sailor Moon e, posteriormente, das primeiras quatro temporadas de Digimon, tendo se dedicado exclusivamente desde os anos 90 a compor para animes. Para a nossa grande infelicidade, ele faleceu em 26 de novembro de 2005 aos 54 anos (pô, em um país com a longevidade que tem a população do Japão, é praticamente um garoto!), em decorrência de um câncer na bexiga. Meses antes, uma das faixas de Sailor Moon foi usada no filme Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg.

A trilha sonora de Sailor Moon recebeu influências de vários gêneros musicais (tem jazz, blues, tango, tecno, rock...), e nenhum deles foi inserido à toa. Dá para notar que na primeira temporada predomina o pop, e gradativamente vemos a presença da música clássica crescer. Isso quer dizer que a trilha musical acompanhou o crescimento e o amadurecimento das cinco protagonistas. O maior mérito de Arisawa foi o de encarar a série não como "isso é mahou shoujo e vou fazer trilha de mahou shoujo" (um mau que assola grande parte das trilhas sonoras atuais e que, lamentavelmente, assola Crystal, cujo compositor simplesmente reeditou as trilhas que compôs para Precure). Não, percebe-se pelo carinho e pela personalidade que cada faixa carrega que ele pensou mais ou menos isso: "é uma história de garotas lidando com suas escolhas e desafios, tem no meio um tanto de romance, um bocado de ação, uns malvadões bem sinistros, uns dramas aqui, umas palhaçadas ali, e é com esse caldeirão que vou trabalhar". Em outras palavras: tratou a série como uma obra, não como um produto.

O mesmo pode ser dito de Digimon, aonde podemos notar uma ou duas faixas de Sailor Moon reutilizadas. Longe de cair em um típico som virtual que poderia até combinar com a temática, Arisawa captou toda a emoção e as sutilezas presentes no anime, o que resultou em mais um trabalho marcante e lembrado com saudosismo pelos fãs. E neste trabalho, descobrimos também que, além de compositor genial, era um homem humilde, pois ao perceber que as suas próprias músicas não dariam a carga dramática exigida pelas cenas, optou por utilizar músicas clássicas mundialmente conhecidas. Assim, temos quase dois episódios inteiros de Digimon Adventure onde toca ininterruptamente o Bolero de Ravel (pra quem não ouviu, segue o link:  https://www.youtube.com/watch?v=r30D3SW4OVw). Embora a primeira temporada seja a mais amada, é na quarta onde há as faixas mais belas compostas para a franquia (como essas duas: https://www.youtube.com/watch?v=62vBo2xz0z0 e https://www.youtube.com/watch?v=-YsBxXq-m7E).

Duas coisas são fundamentais para separar as boas trilhas sonoras das ruins. A primeira: enquanto você está acompanhando a série, o filme, o jogo ou o que quer que seja, não se nota a presença da música por ela estar perfeitamente casada com as imagens em tela. A segunda: assim que você para de acompanhar o áudio-visual, você cantarola a maior parte das músicas, intencionalmente ou não. E nesses dois pontos, Takanori Arisawa está de parabéns. É quase impossível não relacionar, por exemplo, o Tuxedo Mask com https://www.youtube.com/watch?v=u70c1e4mr4g, as Sailor Urano e Netuno com https://www.youtube.com/watch?v=9krXkdZWNZw, as Starlight com https://www.youtube.com/watch?v=6yln-GcZOVs  ou o grito "PELO PODER DO PRISMA LUNAR!" com https://www.youtube.com/watch?v=L1xAPQgGZ0U. E como não tremer de medo ao ouvir ou lembrar dessa música https://www.youtube.com/watch?v=djGhBrjJyKA? Como não sentir uma nostalgia melancólica ao ressoar na cabeça essa melodia https://www.youtube.com/watch?v=NIqgEg-ZaU4? Como não sentir que há um plano "malégno" sendo posto em prática quando começa esse som https://www.youtube.com/watch?v=VN1C3SHR1Dg? E como, me digam como não se encher de coragem e determinação pra realizar suas tarefas e lutar pelo que acredita ao menor tocar de https://www.youtube.com/watch?v=F4nzpsNU5wg???

Digo com toda certeza que as músicas de fundo foi determinante para que Sailor Moon virasse o sucesso que é hoje. E ao mestre Arisawa nós agradecemos pelo seu talento e sua sensibilidade. Onde quer que esteja, o brilho de sua semente estelar jamais apagará.

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