Pode parecer pelo título, mas esse texto não é
sobre moda, pois essa não é minha especialidade. A ideia dessa postagem surgiu
através de uma pergunta que fiz ao pensar com meus borbotões: por que Sailor?
Por que contar essa história usando uniforme de marinheiro? A resposta que
cheguei para essa pergunta foi outra pergunta (https://www.youtube.com/watch?v=rKbMhEsav50): como não contar essa história usando uniforme de marinheiro?
Antes de qualquer coisa, vale conhecer um pouco
da história dos uniformes escolares do Japão. Eles foram instituídos no século
XIX, no início da Era Meiji (aquela retratada em Rurouni Kenshin), com dois
objetivos: fora da escola de marcar o papel de estudante dos jovens na
sociedade japonesa e dentro da escola de retirar toda a condição social e
econômica da vestimenta e, de certa forma, equalizar os alunos. No começo os
modelos eram quase todos bastante tradicionais da cultura japonesa, mas com o
passar dos anos os costumes ocidentais influenciaram cada vez mais o modo de
vida nipônico, o que inclui os designs dos uniformes. Mas em 1920, uma escola
feminina passou a usar uma versão própria das roupas que os trabalhadores da
marinha britânica usavam na época (isso porque a Inglaterra tinha a marinha
mais poderosa do mundo e porque a diretora da escola estudou na terra da
rainha). O modelo hoje conhecido como sailor
fuku se tornou extremamente popular e tomou conta da grande maioria dos
uniformes escolares femininos das escolas japonesas.
O que tudo isso tem a ver com Sailor Moon? Oras
bolas, tudo! A começar pelo seu público-alvo: jovens ginasiais. Serena e suas
amigas são estudantes entre os anos que equivalem ao último do nosso ensino
fundamental e os do nosso ensino médio. Até aí tudo normal. Mas quando chega a
hora de assumirem as suas versões de super-heroínas, suas roupas ganham brilhos
e floreios, mas permanecem uniformes de marinheiro, o “alter-ego civil” ainda
está lá. Na mitologia do super herói, ela/ela precisa assumir um visual
totalmente diferente do usual para ser de fato um/uma super herói/heroína, mas
não é o que ocorre em Sailor Moon. Do ponto de vista prático, não é uma boa
ideia para esconder a identidade, mas convenhamos, a Naoko nunca se
preocupou muito com verossimilhança. Do ponto de vista temático, entretanto, a
situação muda. Quando vemos as mocinhas lutando contra o mau e realizando
façanhas usando uma roupa casual em sua base, vemos a autora dizendo a suas
leitoras que qualquer uma delas pode ser tão poderosa, valorosa e maravilhosa
quanto as personagens, independente de fatores externos, apenas do que se tem
por dentro.
A mensagem estética atrelada à mensagem da obra
acaba perdendo parte desse impacto quando a franquia é exportada para todos os
países que não são o Japão e que não tem como uniforme o sailor fuku ou mesmo qualquer tipo de uniforme escolar. Mas não
somente ela não some como encontra outras maneiras de se fazer
presente. Tomemos como exemplo o Brasil. Qualquer mahou shoujo que veio antes e depois de Sailor Moon possui
vestimentas absurdamente rendadas ou espalhafatosas, que são muito difíceis de
reproduzir na vida real, a não ser que você seja uma pessoa com muitos recursos
financeiros. Mas no caso do nosso anime do coração, as roupas, de maneira
geral, são relativamente simples, o que faz com que sua reprodução seja muitíssimo mais viável e alcançável. Mesmo os cospobres não parecem tão toscos quando se
trata de Sailor Moon, e isso é incrível!
A história tem tudo a ver com Moon do título, e parece em muitos momentos coisa do mundo da lua. Mas é graças ao Sailor que nós, meros terráqueos, nos sentimos tão ligados a ela.